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Conselho Municipal do Patrimônio Cultural COMPAT Mariana Minas Gerais
Zelando pela nossa História
2015: O ANO EM QUE A VILA DO BENTO MORREU
O arraial de Bento Rodrigues nasceu da garimpagem do ouro.
Bento Rodrigues, o paulista que lhe deu o nome, chegou à região do Mata-Cavalos em fins do século XVII e, percorrendo o Ribeirão do Carmo, fundou vários assentamentos de garimpo.
Um deles, que recebeu o seu nome, cresceu, tornando-se em um centro minerador importante na região da Vila do Carmo, tanto que em 1723 os seus moradores contavam com 355 escravos, 18 vendas e com uma produção de ouro na ordem de 1,072 ¼ oitavas de ouro.
Por volta de 1718 foi construída a sua igreja, dedicada a São Bento, e logo depois outra maior, tendo como titular a Virgem das Mercês.
Entre 1755 e 1808 o arraial esteve subordinado a Camargos que, fundado em 1698, foi a partir dessa data elevado a paróquia de instituição episcopal e depois obteve natureza colativa em 1755.
Em Bento Rodrigues estiveram e a ele se referiram o naturalista francês Saint Hilaire (1816-1922) e o médico e botânico inglês George Gardner (1836/1841).
Na tarde do dia cinco de novembro de 2015 a barragem de rejeitos do Fundão, pertencente à SAMARCO Minerações que ali explorava minério de ferro, rompeu-se.
Milhões de metros cúbicos de lama varreram os mais de trezentos anos de história de Bento Rodrigues em poucos minutos. Sobraram poucas casas. A Igreja das Mercês, postada em um elevado, ficou.
A Igreja de São Bento, porém, desapareceu no aluvião, levando junto dezenove vidas: adultos e crianças.
A enxurrada de lama e morte se alastrou, invadindo Águas Claras, Ponte do Grama, Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Pedras, até a cidade vizinha de Barra Longa. De lá, inundou o Rio Doce prosseguindo até o mar, constituindo-se no maior desastre ambiental já visto no Brasil.
O arraial de Bento Rodrigues nasceu sob o signo da extração do ouro, num distante dia do final do século XVII.
A mesma ânsia mineradora matou-o em poucos minutos, a cinco de novembro de 2015.