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Conselho Municipal do Patrimônio Cultural COMPAT Mariana Minas Gerais
Zelando pela nossa História

O CRESCIMENTO DA VILA

Partindo do acampamento iniciado pelos exploradores Salvador Furtado de Mendonça e Antônio Pereira, chamado de Mata-Cavalos, a vila começou a tomar forma seguindo o leito do ribeirão que partilhava do mesmo nome. A Vila do Carmo nascia alongada, acompanhando o curso d´agua e os caminhos que por ali passavam.

Devido à escassez de alimentos e a fome disso decorrente, já que a população se ocupava mais da extração do ouro que da agricultura e os víveres que vinham de fora eram insuficientes para manter a gente que para lá afluia cada vez mais, o povoado de Mata-Cavalos foi abandonado por duas vezes, de 1697 a 1698 e depois entre 1701 e 1702. Após esse segundo período, permaneceram alí apenas Manuel da Cunha, com cabana localizada próxima a foz do córrego Lavapés, hoje córrego do Seminário, e Francisco Fernandes, que fundou o arraial do Vamos-Vamos, ao norte do Mata-Cavalos.

 

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Planta Urbana da Cidade de Mariana, atribuída ao Arquiteto José Fernandes Pinto Alpoim (1743), traçada nos moldes mais modernos da época.

Vindo do Maranhão, Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho chegou ao Arraial do Carmo em 1710, nomeado Governador-Geral das províncias das Minas, Rio de Janeiro e São Paulo por carta-patente de 7 março de 1709 emitida pelo Rei de Portugal.

Sua missão, além de exercer um maior controle sobre a extração de ouro, era a de extinguir os conflitos que se agravavam desde 1708 entre os paulistas ocupantes da região, comandados pelo recolhedor dos quintos de impostos Borba Gato, e os chamados emboabas, portugueses liderados por Manoel Nunes Viana. O Arraial do Carmo foi cenário de uma dessas lutas armadas, acontecida no alto do Mata-Cavalos, no morro de Santo Antônio.

Albuquerque conseguiu acabar com os conflitos através de uma grande agilidade política e, fazendo uso de moderação, atribuiu indultos, cargos e mandatos aos poderosos.

O arraial passou a se chamar Vila de Nossa Senhora do Carmo, por Carta Régia de 1712. 

Para a constituição do rossio, terras públicas da Câmara, Antônio Martins Pereira havia trocado um terreno de uma légua de extensão pela posse hereditária do cargo de escrivão da Câmara.

Nesse local cresceu o novo povoado denominado pelos habitantes Arraial de Baixo, em contraponto ao Arraial de Cima ou Mata-Cavalos, considerado lugar de desordeiros.

O lugar crescia cada vez mais em extensão e habitantes, que vinham de todas as partes atraídos pela mineração.  

Víveres e outros artigos de subsistência chegavam em lombo de burros pelo caminho de Itaverava. O ouro parecia inesgotável, o que originava grande especulação e carestia de vida. A riqueza era enorme mas a fome ainda rondava os habitantes da vila pois tudo era espantosamente caro.

Assim mesmo, iniciava-se a época das grandes transformações urbanas na Vila do Carmo.

 

A casa do vereador Pedro Frazão, situada na Rua Direita do Mata-Cavalos, onde se reuniam os primeiros Camaristas ou vereadores da Vila do Ribeirão do Carmo (1711).

Pela elevação a Vila, pedida ao rei por Albuquerque em 1711, instalou-se nesse ano a primeira Casa de Câmara na casa do vereador Pedro Frazão, à rua Direita de Mata-Cavalos, próximo ao largo da Quitanda, onde se reunia o Conselho de "homens bons" em sessões públicas. 

"A Câmara da Vila do Carmo recebeu a concessão dos privilégios da Câmara do Porto e o título de Leal Vila. Isso significava que os camaristas do Ribeirão do Carmo teriam direitos de usar armas ofensivas e defensivas e não estavam obrigados a prestar serviços nas guerras, dar pousada, adega ou cavalos, salvo por sua própria vontade.Também podiam fazer uso de espadas com bainha de veludo, trajes de seda e terços dourados, além de outras imunidades que proporcionavam condições de fidalguia aos vereadores".

Revista do Arquivo Público Mineiro (RAPM) - ano 2, fascículo I,1897. pg. 148. 149 e 152.

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A Casa do Conde de Assumar, depois primeiro Palácio de Dom Frei Manoel da Cruz.

Durante o governo iniciado em 1717 de Dom Pedro de Almeida Portugal, conde de Assumar, que sucedera a Dom Braz Baltazar da Silveira como Governador e Capitão-Mór da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, rompeu-se o equilíbrio penosamente mantido pelos seus antecessores com a revolta contra a cobrança de impostos, culminada pela execução do chefe revoltoso Felipe dos Santos na vizinha Vila Rica.

Como decorrência desse acontecimento foi criada, em 1720, a Capitania de Minas Gerais.

Atrás da Matriz, no limite do rossio, foi construído o Palácio de Assumar (1715-1717), em um local ainda sem arruamento. Seguindo dali, o largo em frente (Largo da Cavalhada, hoje Praça Gomes Freire) era frequentemente utilizado para festas profanas.

A rua onde se instalou a Casa de Fundição  em 1734, paralela à que passava na lateral da Matriz, tendo ao meio o Largo da Cavalhada, denominou-se Rua dos Cortes, prolongando-se até o Morro da Forca, atual colina de São Pedro.

Nessa época, a vila ainda conservava a aparência de arraial com o “correr de ruas mal delineadas, tortuosas e inconstantes na largura, de pequenas travessas, de terrenos que parecem escorregar desalinhadamente”.

As primeiras transformações ocorreram no Largo da Matriz, que tomou uma forma quadrangular e abrigou os primeiros prédios públicos e o pelourinho. No Caminho de Fora, lateral à Matriz, instalaram-se, anos depois, a Casa dos Juízes-de-Fora e Casa da Intendência que deu nome à rua.

Seguindo a tradição secular portuguesa, a Rua Direita foi transferida para perto da Matriz, onde na época existia apenas um caminho conhecido como “caminho de cima”.

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A Rua Direita, aquela que leva à Matriz, segundo a tradição portuguesa, nos dias atuais.

 

 

A migração dos habitantes que ainda permaneciam no Mata-Cavalos para a parte de baixo da vila foi acelerada, por volta de 1730, pelas inundações crescentes no Ribeirão do Carmo, causadas pelo açoreamento de suas margens pela constante e excessiva garimpagem. A situação tornou-se catastrófica, a ponto da Câmara de Vereadores passar a deliberar medidas para o seu controle.

Urgia estabelecer um ordenamento na ocupação do sítio urbano da Vila do Carmo, que crescia cada vez mais, com um significativo contingente de brancos, escravos africanos e mestiços.

Listagens depositadas no Arquivo Público Mineiro - fundo Casa dos Contos - para os anos de 1718, 1719 e 1720 contabilizaram respectivamente 10.974, 10.937 e 9.812 escravos tributados, o que dá idéia do montante da população da região da Leal Vila de Nossa Senhora do Carmo, título dado pelo rei de Portugal depois da Guerra dos Emboabas. Os registros dizem que só no núcleo urbano viviam perto de 2.000 pessoas.

E assim chegou a década de 1740, que trouxe importantes mudanças em sua configuração física e em sua História.

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